& 2. O REINO DE DEUS

   

Este capítulo é baseado em Teologia do Novo Testamento de George Eldon Ladd.

 

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. 1. ed.  São Paulo: Exodus, 1997. 584p.

 

 (Marcos 1.14-15;  Mateus 4.23; Lucas 4.21)

         “De Agostinho aos reformadores, o ponto de vista dominante foi que o Reino, de um modo  ou de outro, deveria ser identificado com a Igreja” (p.55-6). 

         Atualmente, este ponto de vista é raro, mesmo entre os teólogos católicos.

Outros têm argumentado sobre um Reino futuro e totalmente escatológico (Johannes Weiss) E Albert Schweitzer, interpretação escatológica, em que Jesus esperava o Reino num futuro próximo. 

Desde então, a maioria dos eruditos não tem considerado o Reino como exclusivamente escatológico. "Rudolf Bultmann aceitou a aproximação iminente do Reino escatológico como a interpretação correta da mensagem de Jesus, mas o verdadeiro significado do Reino deve ser compreendido em termos existenciais: a proximidade e a exigência de Deus” (p. 56)

            “Tem havido um sem-números de interpretações não escatológicas do Reino de Deus.  Muitos eruditos têm interpretado o Reino primariamente em termos da experiência religiosa pessoal — o reino de Deus na alma do indivíduo.” (p.56)

“Na Grã-Bretanha, a interpretação mais influente tem sido a de C. H. Dodd, conhecida como ‘Escatologia Realizada’ (p.56).  Ele compreende a mensagem apocalíptica como uma série de símbolos que representam  as realidades que os homens não entenderiam de um modo direto.

            Deste modo o Reino (o "totalmente outro") entrou na História através de Jesus, sendo descrito numa ordem transcendental, tudo o que os profetas haviam predito e esperado, agora tinha sido realizado na história. Dodd, minimizou o aspecto futurista do Reino, mas em sua última publicação (The Founder of Christianity, 1970) ele admitiu que o Reino ainda aguarda a consumação "além da história".

 

"Se há algum tipo de consenso entre a maioria dos eruditos, este é que o Reino é, em algum sentido, tanto presente quanto futuro"(p. 57)

 

Em certos círculos evangélicos na América e Grã-Bretanha, uma perspectiva bem recente a respeito do Reino tem alcançado grande influência [J.D. Pentecost, Things to Come (1958); A.J. McClain, The Great-ness of the Kingdom (1959); J. Walvoord, The Millennial Kingdom (1959); C.C. Ryrie, Dispensationalism Today (1965); The New Scofield Reference Bible (1967). Uma crítica ampla sobre esta perspectiva pode ser encontrada no livro de G.E. Ladd, Crucial Questions About the Kingdom of God (1952)].. Partindo da premissa de que todas as profecias que o Velho testamento fez com relação a Israel precisam ser literalmente cumpridas, os dispensacionalistas têm feito uma forte diferenciação entre o Reino de Deus e o Reino dos Céus. O Reino dos Céus significa o domínio dos céus (Deus) sobre a terra e tem referência primária ao Reino teocrático de natureza terrena prometido ao Israel do Velho Testamento. Somente o Evangelho de Mateus nos fornece o aspecto judaico do Reino. Quando Jesus anunciou que o Reino dos Céus estava próximo, estava fazendo referência ao reino teocrático terreno prometido a Israel. Entretanto, Israel rejeitou a oferta do Reino, e, em lugar de estabelecer o Reino para Israel, Jesus introduziu uma nova mensagem, oferecendo descanso e serviço para todos os que cressem, iniciando a formação de uma nova família de fé, que se faz presente ao longo das linhas de separação racial, eliminando-as. O mistério do Reino dos Céus mencionado em Mateus 13 representa a esfera da profissão de fé cristã — cristandade — que é a forma assumida pelo domínio de Deus sobre a terra entre os dois adventos de Cristo. O fermento (Mateus 13.33) sempre representa o mal; no Reino dos Céus — a igreja militante — a verdadeira doutrina será corrompida pela doutrina falsa. O Sermão do Monte é a lei do Reino dos Céus — a Lei Mosaica do Reino teocrático do Velho Testamento, interpretada por Cristo, destinada a ser o código de conduta do Reino aqui na terra. O Reino dos Céus, rejeitado por Israel, será consumado no evento da volta de Cristo, quando Israel será convertido e as promessas do Velho Testamento a respeito da restauração do Reino de Davi serão literalmente cumpridas. O princípio básico desta linha de pensamento teológico é que há dois povos de Deus — Israel e a Igreja — com dois destinos, sob dois programas divinos. (p. 57-8)

 

 Outras escritores recentes tem interpretado “o Reino basicamente do mesmo modo em termos do descortinamento da história da redenção.  O Reino de Deus é o domínio real de Deus, que tem dois momentos: um cumprimento das promessas do  Velho Testamento na missão histórica de Jesus e uma consumação ao fim dos tempos, inaugurando a Era Vindoura” (p.58)

 

O Deus do Reino

“O Reino é o Reino de Deus, não do homem: Basiléia tou theou (...) o reino significa o domínio de Deus” (p. 77)

          Deus sempre é visto como governador soberano sobre todos (inclusive no judaísmo). Deus sempre tem sido o superintendente que providencia toda a existência humana.  No presente tem manifestado sua atuação redentora em Cristo e no final revelará sua glória na consumação dos tempos e no surgimento da Era Vindoura.

 

Ele é “O Deus QUE BUSCA” 

    Aquele  que deve ser conhecido pela experiência e não apenas ensinado pela comunicação intelectual.

             A Chegada do Reino, anunciava uma possibilidade nova / desconhecida, que Deus estava intervindo na História através de Jesus, buscando o pecador, num ato gracioso e redentor. Jesus veio para ministrar aos pecadores (Marcos 2.15-17);

             "O centro das "boas-novas" sobre o Reino é que Deus tomou a iniciativa de buscar e achar aquilo que se havia perdido"  (p.79)

 

Ele é "O DEUS QUE CONVIDA"

“Jesus descreveu a salvação escatológica em termos de um banquete ou festa para a qual muitos foram convidados (Mateus 22.1 e ss.; Lucas 14.16 e ss.; cf. Mateus 8.11)”  (p. 79)

“Jesus conclamou os homens ao arrependimento, mas a intimação foi também um convite.” (p. 79)

 

Ele é O Deus QUE JULGA

            Enquanto Ele busca o pecador, seu atributo de justiça o mantém no posto de Juiz para aqueles que rejeitam seu Dom gracioso e salvador.    “O reverso de herdar o Reino será sofre a punição do fogo eterno (Mt. 25.34,41)" (p. 83)

Os que recusaram a entrar e tentaram impedir a outros (Mt. 23.13)

Este destino escatológico, é uma decisão determinada pelo pecador em resposta ao convite salvador de Cristo Jesus. (Mc. 8.38 e Mt. 10.32,33)  

Ais contra as cidades impenitentes de Corazim, Betsaida e Cafarnaum (Mt.11.20-24 e Lc. 10.13-15)

 

Jesus chorou sobre Jerusalém (Mt. 23.37-39; Lc. 13.34,35)

A figura da galinha ajuntando seus pintainhos é do VT  (Dt. 32.11;  Sl. 17.8; 36.7) onde O judeu  ao converter um gentio, e visto como trazendo-o sob as asas do Shekinah (a presença de Deus)  O sentido simples, é o de introduzir os fariseus no Reino de Deus, mas a rejeição fez Jesus chorar conhecendo o que lhes esperava "e te sitiarão" (Lc. 19.41-44) Ao rejeitar a episkope graciosa (não conheceste o tempo da tua visitação v.44), a catástrofe histórica ficou determinada trazendo morte e destruição.

 

Paternidade

            O Deus PATERNAL. Deus busca pecadores, convidando-os a que se submetam ao seu domínio para que possa ser seu Pai. O justificado por Cristo entrará no Reino Eterno de seu Pai (Mateus 13.43)  É o Pai quem preparou a graça bendita a que os filhos herdarão no Reino (Mateus 25.34)  Na oração dominical, Jesus ensina a pedir que o Reino Venha, tal é o gozo dos remidos pelo mesmo. (Mateus 6.10)

 

O conceito de Pai tem raízes no VT, A Paternidade é expressa em decorrência da Aliança entre Deus e Israel (Ex. 4.22 “Israel é meu primogênito”; Dt. 32.6; Is. 64.8; Ml. 2.10 Deus é o Pai da nação.)

 

A Paternidade Universal de Deus somente pode ser entendida no sentido potencial, e não real, (Mt. 5.44 chuva para maus e bons; Mt. 6.26 Pai de todas as criaturas, alimenta-as. Lc. 15.11-24 Filho Pródigo. – A verdade central é que Deus Busca o Pecador, o lugar próprio do homem é na casa do Pai.

 

            A linguagem aramaica abba foi vestida pelo grego em Rm 8.15 e Gl. 4.6, no sentido aramaico, significa a linguagem infantil semelhante ao nosso “paizinho”  Jesus proibiu usar esta palavra no uso diário como um título de cortesia (Mt. 23.9), “deveriam reservar este termo apenas para Deus.  Abba representa a nova relação de confiança e intimidade  que Jesus conferiu aos homens” (p. 82)

 

O Mistério do Reino

O mistério do Reino é a vinda do Reino para a história como uma espécie adiantamento de sua manifestação apocalíptica. Em resumo, ele significa 'o cumprimento sem consumação'. Esta é a verdade singular ilustrada pelas várias parábolas de Marcos 4 e Mateus 13. ‘A chamada dos doze discípulos por Jesus para participarem de sua missão tem sido amplamente reconhecida como um ato simbólico, no qual se demonstra a continuidade entre os seus discípulos e Israel. Que os doze representam Israel, pode ser demonstrado pela atuação escatológica que lhes foi atribuída. Eles devem sentar-se nos doze tronos, 'a julgar as doze tribos de Israel' (Mateus 19.28; Lc 22.30). Quer esta expressão signifique que os doze devem determinar o destino de Israel através do julgamento ou devem governar sobre eles, os doze estão destinados a encabeçarem o Israel escatológico. (p. 102). 

O número 12 simboliza a transição entre o Israel passado e o Israel escatológico (futuro).MATEUS 16.18,19  ekklesia passou a ser um termo bíblico que designa Israel como a congregação ou assembléia de Yahweh.      

...o Reino de Deus é o domínio redentor de Deus, ativo dinamicamente, visando estabelecer seu governo entre os homens, e que este Reino, que aparecerá como um ato apocalíptico na consumação dos tempos, já entrou para a história humana na pessoa e missão de Jesus com a finalidade de sobrepujar o mal, de libertar os homens do seu poder e propiciar-lhes a participação das bênçãos da soberania de Deus sobre suas vidas. (p. 87)

A vós vos é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados. (Marcos 4.11-12)

 

A Ética do Reino.

Mateus 22.40 Resume todo o ensino ético de Jesus.

É a lei do amor (Original de Jesus) dos dois mandamentos depende a Lei e os Profetas.

 

 

Voltar ao início da seção

Voltar à Página inicial

Elaborada por Walter Meleschco Carvalho, e atualizada em 28/09/2005